sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Artigo de Nelson Motta, no Estadão: “Estado de calamidade postal”

Não sou exceção, sou mais uma das incontáveis vítimas do apagão postal e do desastre administrativo dos Correios. Mas tenho uma coluna de jornal.

Casos como o meu se multiplicam todos os dias, com incalculáveis prejuízos para quem confia nos Correios. Recebi no dia 10/8, em Ipanema, um boleto bancário postado no dia 3/8, no Centro da cidade. O envelope levou uma semana, entre dois bairros do Rio de Janeiro. Se viesse a pé teria chegado em duas horas. Os Correios dizem que faltam aviões.

Mas a questão é: quem vai me reembolsar os 10% de multa que fui obrigado a pagar por culpa dos Correios? E a vergonha que passei? Quem paga os prejuízos econômicos e morais dos pagadores pontuais que passam por inadimplentes? Quem se responsabiliza pelo tempo que se perde e o dinheiro que se gasta com atrasos e documentos extraviados?

À enxurrada de reclamações nos jornais, respondem sempre que "os Correios têm não sei quantos anos de serviços prestados, padrão internacional de atendimento, estamos nos esforçando para ?"

Mas nada mudou. Só trocaram o presidente, para engabelar a opinião pública em ano eleitoral. Mas vocês viram a cara do novo chefão dos Correios? Ninguém confiaria uma carta para aquele homem entregar. O apagão postal faz milhares de pessoas honestas e pontuais perderem prazos, pagarem juros injustos e multas indevidas. Se os Correios não são mais confiáveis, não temos opção. O ex-ministro Hélio Costa logo diz que é lobby pela privatização. Mas é o responsável pelas nomeações que fizeram dos Correios o que hoje são.

Aparelhar órgão públicos e estatais, fazer politicagem com cargos, tem um alto custo - para os funcionários e os usuários - tanto em corrupção como no apodrecimento administrativo. As provas vivas são os atuais Correios e as históricas imagens de Mauricio Marinho pegando dinheiro, que levaram à CPI do mensalão.

Assim como carimbam a data da postagem no envelope, os Correios deveriam ser obrigados pelo Procon a carimbar a data da entrega. E assumir as responsabilidades legais pelos prejuízos. Se fosse assim, as indenizações já teriam quebrado os Correios.

Nelson Motta

Fonte: Estadão

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